domingo, 7 de junho de 2009

MÊS DOS NAMORADOS

O nome de Drummond está associado ao que se fez de melhor na poesia brasileira.O poeta sempre afirmou que a ausência do amor é a negação da própria vida.Drummond tinha de estar apaixonado ao escrever estes versos.Leia aqui um poema deste autor.

AMAR

“Que pode uma criatura senão,entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar,amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,sozinho,
em rotação universal,senão rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,o que ele sepulta, e o que,
na brisa marinha,é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,o que é entrega ou
adoração expectante,e amar o inóspito, o cru,um vaso sem flor,
um chão de ferro,e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,distribuido pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,e na concha vazia do amor a procura medrosa,paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor,e na secura nossa amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita.”


Carlos Drummond Andrade

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